terça-feira, 13 de setembro de 2011

E foi assim...

Como começar…
Desde a compra da actual motinha que a minha maneira de estar neste mundo do motociclismo mudou completamente… A Varadero permitiu começar a sonhar com viagens mais distantes! E que sonhos… E que viagens…
Alguns projectos alterados/anulados e algumas viagens e passeios mais curtos (e alguns não tão curtos!) têm mantido a vontade de viajar bem acesa…
A minha cabeça sempre achou que a Varadero pedia mais estrada. Eu, pedia o mesmo… Assim, depois de devidamente negociado, o destino lá se escolheu, de entre outras propostas igualmente interessantes:
Em 2010 ía para os Alpes!!!

Os planos...

Fazer um diário discriminado da viagem não tem muito sentido… Ninguém deve ter curiosidade de saber onde almoçamos, jantamos ou paramos para abastecer…. Além do mais, se eu consegui ir e voltar, sem problemas nenhuns, é porque não deve ser complicado!!!
Parece-me mais simples, e até mais importante e útil, compilar alguma da informação que acabamos por obter numa viagem desta dimensão, informação essa que poderá ajudar futuros viajantes.
Em resumo, os planos eram segunda quinzena de Agosto, máximo 17 dias de viagem. Início e fim da aventura em Chaves e percurso (resumido) a passar por Chaves, Burgos, Tarbes, Avignon, Annecy, Interlaken, Andermatt, St Moritz, Fusch an der Grossglockner, Veneza, Génova, Barcelona e Chaves outra vez depois de 5500Km de estrada e 18 horas de ferry… O objectivo era fazer os “3 Grandes” (Furka, Stelvio e Grossglockner), passar a maior parte das férias na Suíça e visitar Veneza no regresso. Uma aventura e tanto!...

A preparação

Primeiro que tudo: a moto! 5000km longe de casa requerem atenção especial.

Foi fazer uma revisão extra e teve direito a sapatinhos novos (cheios com ar normal), alarme instalado e instruções bem estudadas (para evitar “azares”), kit básico de ferramentas, 2 coletes reflectores, farmácia (com alguns “extras” e algum material substituído por outro de melhor qualidade/maior especificidade) e documentos em ordem (com cópias de tudo numa pen e online num email), uma nova latinha de spray para os puffss-puffss regulares que a corrente iria exigir e um kit de reparação de furos, com algumas botijinhas de gás e está pronta!!
Acho esta parte da preparação das mais importantes. É essencial para mim saber que posso contar com uma moto segura e bem mantida. 5000Km representam muitos riscos pelo caminho e uma moto a 100% reduz muitos deles.
Quanto aos passageiros, equipamento escolhido tendo em conta o local de destino. Tudo bem escolhido, que o espaço não é muito e nada de coisas que achamos que podemos vir a usar. Só vai o essencial. Só há 35 litros de espaço de carga por pessoa, uma top-case para o casaco extra, fatos de chuva e luvas mais quentes, coisas do dia-a-dia e os muito importantes souvenirs, e um saco de depósito com o cadeado de disco, mp3, lanterna e pilhas, máquina fotográfica, umas bolachinhas para ir trincando, água e documentos. Ah! E mapas! Os velhinhos e comprovados mapas da Michelin! Mesmo com GPS não dispenso. Pouca coisa e material bom. O essencial!
No que diz respeito a “gadgets”, não quis ir carregado com coisas que não iríamos utilizar. Evitei também ter de comprar (mais) equipamento deste género. Assim, levamos um telemóvel, um eeeeeeeeeePC e a máquina digital SLR. Evitei cabos repetidos e sempre que possível cabos USB para carregar. Para a orientação levei o mais fraquinho dos TomTom: o ONE V3 já com uns anos no activo. A única coisa que tive de comprar foi uma Aquabox da RAM-Mount para “impermeabilizar” o TomTom. Uma tomada USB de 12V para ligar à mota e está tudo! Pouca coisa, evitar material desnecessário e material repetido. Nada de especial!

Como cuidados na programação, para quem não vai sozinho, é importante não abusar dos km diários. As paragens para descansar e conhecer locais de interesse são muito importantes. No nosso caso, os percursos de ligação raramente ultrapassavam os 400km, o que nos permitiu viajar sempre da parte da manhã, chegar à hora de almoço ao destino do dia, ir ao Hotel deixar malas, tomar banhoca e mudar de roupa e fazer turismo, quase sempre a pé! Uma aposta ganha, este tipo de organização! E mesmo assim, houve alguns dias que foram seleccionados para serem 100% motorcycle free. Não se torna cansativo e não ficamos com a ideia que não fazemos outra coisa que não seja andar em cima da moto, mesmo havendo dias que com as “voltinhas de turismo” tenhamos chegado aos 600km. A moto, e o grau de preparação da mesma, também ajudam neste aspecto…

Finalmente o dia da partida…

Depois de uma saída muito tardia para Burgos, as férias lá começaram. Bem, as férias propriamente ditas, eram para começar uns dias depois, aquando da entrada na Suíça e “dentro” dos Alpes, finalmente! Mas lá nos fomos pondo a caminho…
A entrada em França fez-se sempre na companhia de nuvens escuras e ameaçadoras, que nos ofereciam uma limpeza regular do equipamento e do Mamute… A estrada na Cantábria é fenomenal, mas completamente molhada, com nevoeiro e trânsito (era dia de regresso de emigrantes) fica complicada e difícil de aproveitar devidamente.
Circular em França foi uma boa surpresa. As áreas de serviço são absolutamente fantásticas e vê-se mais relva do que alcatrão. Os preços são equivalentes. Como notas negativas fica o aborrecimento de andar sempre a parar nas Péages e o preço das mesmas… E também o trânsito intenso ao nos aproximarmos do Mediterrâneo. No entanto, os automobilistas aceitam e facilitam a circulação das motos pelo meio das duas faixas. Agradável esse comportamento, dentro do aborrecimento e calor infernal no trânsito…
Primeira paagem em França: Lourdes. Por mero acaso, era o dia máximos das “festas”… Não havia espaço nem para mais uma alma, mas como motas eram poucos, não tivemos problemas de estacionamento ou a circular. Apenas uma ameaça de atentado dificultou a progressão nas imensas filas de automóveis… A polícia estava toda na rua… Nota muito positiva para o Santuário, completamente diferente do “descampado” de Fátima. Foi interessante de conhecer.
Avignon, cidade muito “medieval”, dentro de muralhas, com a antiga residência do Papa, foi interessante. Aqui, fica a memória do primeiro contacto com a cozinha genuína francesa. Seguindo a sugestão de um Amigo entendido nestas lides de “dar ao dente”, lá experimentei um famoso pato com molho de mostarda! Divinal… Obrigado pela dica!!!
Dias depois, Annecy, mais uma das nossas paragens, revelou-se ainda mais interessante que aquilo que tinha visto na net. A parte velha da cidade, com imensos canais e uma “fortificação” é muito interessante e agradável para nos perdermos horas a passear e a beber uma coisa fresquinha numa esplanada perto dos canais. Adoramos a cidade!





No dia de entrada para a Suíça, ainda deu para um tour rápido (e sempre de moto) por Genéve e uma paragem para almoço em Montreux, essencialmente (unicamente?!!) para ir ver o Freddy!! Fantástico! Para quem adora o grupo, claro…
À entrada (finalmente!!) da Suíça, os euros ainda servem para comprar a Vignete para as auto-estradas (que pouco ou nada utilizamos…). Daqui em diante, apenas francos (CHF)… O melhor local para os “comprar” é num MB, pois mesmo com as taxas internacionais pelo levantamento, fica mais barato que uma qualquer casa de câmbios. Ainda falando dos CHF, atenção que voam da carteira a uma velocidade incrível!!... A Suíça é incrivelmente cara!... Pouco mais de 48€ por uma bolognesa, uma salada e 2 colas… E nem era um restaurante XPTO…











Acerca da Suíça não há muito a dizer! Apenas: Vão lá!!!!!! É lindo! Limpo! Organizado! Civilizado! É um País a sério!...
Ah! E as estradas? Ah ah ah ah… O objectivo da viagem! As maravilhosas estradas que serpenteiam pelos Alpes! Imperdível!
Inicialmente, os primeiros ganchos que nos apareceram foram abordados com mais medo que prazer… Mas acabamos por perceber como atacar aquelas curvas com o Mamute e tudo correu pelo melhor! Os restantes condutores são muito respeitadores, mesmo os estrangeiros.

Passos e passeios…

A Suíça foi o local onde fizemos, entre muitos outros: Susten, Furka, Grimsel, Novena, Val Tremola, Oberalp… Alguns dos quais várias vezes! Falar desta parte da viagem é… inútil! Só passando por lá se percebe o ambiente que se vive. Centenas de motos de todos os tamanhos, idades e feitios, todo o tipo de motociclistas, dedos esticados em aceno milhares de vezes… O paraíso! O verdadeiro Biker’s Heaven!!!!

































A última etapa da Suíça, alojados em Sankt Moritz, reservava-nos uma agradável surpresa: Passo dello Stelvio! UUAAAAUUUUU!!!!!! Único! Fantástico! Maravilhoso! … eh…já disse Fantástico??







A subida feita desde Bormio foi …emocionante… Havia obras e alguns ganchos em terra com cascalho solto… “Bem -pensei eu- desde que não nos magoemos, a mota que se lixe…” E assim foi, com uma postura de relax lá fomos fazendo tudo nas calmas! E chegamos ao alto sem surpresas! Eh… Já disse que é Fantástico??!!!!!... O ambiente é único! Motard a 100%! Toda a gente que por lá anda tem gasolina a correr no corpo, nada de sangue, só gasolina!!! Sente-se o culto aos motores de combustão! Tudo gira em volta das máquinas com 2, 4 ou mais (ou menos) rodas… Senti-me em casa!! Este é o ambiente que todos temos de viver, pelo menos uma vez! Como já alguém por aqui comentou, é chegar lá cima e sentir não só a realização de um sonho, mas uma certa sensação de dever cumprido! Voltava lá hoje mesmo, sem hesitar…















E bem, os dias vão passando e a Áustria é o nosso próximo destino. Vamos até à “base” do Grossglockner, para depois fazermos esta estrada 100% biker friendly e seguirmos caminho, a iniciar o regresso.


Da Áustria, pouco posso dizer. Estivemos por lá pouco tempo e poucos km. Gostei do país, das cores, de tudo… Excepto das pessoas… Digamos apenas que… não são muito simpáticas… Adiante…